A Alma Sequestrada: A Psicanálise da Violência (61 Socos em 36 Segundos: a Brutalidade que Fala por Si)
A Violência Doméstica sob a Lente da Psicanálise: Freud,
Jung, Lacan e Autores Contemporâneos
A violência doméstica, especialmente quando culmina em
feminicídio, é um fenômeno que ultrapassa os limites da criminologia e da
sociologia. Ela é também uma expressão psíquica profunda, que pode ser
compreendida à luz da psicanálise, ciência que escuta o inconsciente e revela
os conflitos que operam por trás das ações humanas.
Freud: Pulsão de Morte e Repetição
Sigmund Freud, pai da psicanálise, introduziu o conceito de pulsão
de morte (Thanatos) em oposição à pulsão de vida (Eros). Em seu texto “Além
do Princípio do Prazer” (1920), Freud sugere que há uma tendência inconsciente
à autodestruição e à destruição do outro. No contexto da violência doméstica, essa
pulsão se manifesta como sadismo, controle obsessivo e agressividade extrema.
Freud também fala do compulsivo à repetição, onde o sujeito repete
padrões traumáticos, muitas vezes herdados de sua própria história familiar.
Jung: A Sombra e os Complexos
Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica, aponta a
uma leitura simbólica da violência. Para ele, o agressor é dominado pela sombra
— os aspectos reprimidos e não integrados da personalidade. Quando essa
sombra não é reconhecida, ela é projetada no outro, que se torna alvo da
destruição. Jung também fala dos complexos, núcleos emocionais
inconscientes que podem dominar o comportamento. Um complexo de inferioridade,
por exemplo, pode levar o agressor a tentar aniquilar o outro como forma de
compensação.
Lacan: O Gozo Perverso e a Falta
Jacques Lacan aprofunda a teoria freudiana ao afirmar que o
sujeito é estruturado pela linguagem e pela falta. O agressor, muitas vezes,
não suporta a autonomia da vítima, pois ela representa uma ameaça à sua
fantasia de completude. O gozo (jouissance), conceito central em Lacan,
é uma forma de prazer que ultrapassa o limite e se torna destrutiva. O gozo
perverso do abusador se alimenta do sofrimento da vítima, e a violência se
torna uma forma de reafirmar seu poder sobre ela.
Autores Contemporâneos
Marie-France Hirigoyen, psiquiatra e psicanalista francesa, no livro “Assédio
Moral: A Violência Perversa no Cotidiano” (2000, Editora Bertrand Brasil), descreve como a violência psicológica pode
ser tão devastadora quanto a física. Ela mostra como o agressor manipula,
humilha e isola a vítima, criando um ambiente de terror silencioso.
Esther Perel, terapeuta belga, discute em sua obra Casos e Casos (2018, Editora Objetiva (Grupo Companhia das Letras), os efeitos da infidelidade e das relações tóxicas sob uma ótica terapêutica e cultural. Ela analisa como o poder, o controle, o silêncio e a manipulação emocional se manifestam em vínculos íntimos, elementos que também estão presentes em situações de assédio moral, especialmente nas relações conjugais e profissionais. Embora o foco seja a traição, Perel revela como dinâmicas perversas podem se instalar em relações aparentemente funcionais, e como o sofrimento psíquico pode ser invisibilizado ou normalizado, onde o controle sobre o corpo e a mente do outro é uma forma de dominação que se disfarça de amor.
Vera Iaconelli, psicanalista brasileira, tem contribuído com reflexões sobre gênero e violência. Em suas entrevistas e textos, ela destaca como a cultura patriarcal legitima a violência contra a mulher e como a psicanálise pode ajudar a desconstruir esses padrões. Em seu corajoso ensaio autobiográfico com viés psicanalítico "Análise", Iaconelli expõe sua própria trajetória como analisanda e psicanalista, abordando:
- A violência
doméstica vivida na infância, com um pai alcoólatra e agressivo
- A submissão
da mãe, que representa o apagamento subjetivo feminino
- A lealdade
familiar como forma de opressão, onde o desejo individual é
sacrificado em nome da manutenção de valores herdados
- A implicação
subjetiva no trauma, mostrando que a análise só começa quando o
sujeito se inclui na própria história
Esses elementos são centrais na compreensão do assédio
moral e da violência psicológica, especialmente em ambientes familiares e
conjugais. A autora propõe que o sofrimento só pode ser elaborado quando
é nomeado, implicado e transformado em narrativa, exatamente o que muitas
vítimas de abuso precisam fazer para romper o ciclo.
“Mesmo que seja uma história de muita violência de fora, você
só começa quando diz: ‘Tem algo meu aí’. O que eu fiz ali que ainda não
consegui dar conta?”, pensamento profundamente
psicanalítico: não se trata de culpabilizar a vítima, mas de resgatar sua
posição de sujeito, capaz de elaborar, transformar e colocar limites.
A Violência Escancarada: 61 Socos em 36 Segundos
O caso de uma jovem mulher brasileira (o nome da vítima é
preservado no artigo porque ela sobreviveu e pode, quando quiser, contar ela
mesma a sua história) agredida com 61 socos em apenas 36 segundos,
encurralada dentro de um elevador em Natal (RN), chocou o Brasil não apenas
pela brutalidade, mas pela frieza e controle demonstrados pelo agressor, Igor
Eduardo Pereira Cabral, estudante com 32 anos e ex-jogador de basquete. Sob
a ótica psicológica e psicanalítica, especialistas apontam que o perfil do
abusador revela traços profundos de perversidade e ausência de empatia, retrato
brutal da violência doméstica. A cena, registrada por câmeras de segurança,
o mostra desferindo golpes com fúria descontrolada, enquanto a vítima tenta se
proteger. Esse tipo de ataque revela não apenas a força física, mas a
intenção de aniquilar, de destruir o outro como sujeito, como pessoa, no caso,
como mulher.
Ao ser interrogado após o crime, o agressor, que será
processado por tentativa de homicídio com prováveis qualificadoras, disse que teve um “surto claustrofóbico”, o
que absolutamente não se sustenta como defesa, já que a claustrofobia pode
gerar pânico, taquicardia e tentativa de fuga, mas nunca agressão direcionada a
outra pessoa com tamanha precisão, repetição e brutalidade. A violência
extrema, nesse caso, não foi impulsiva, mas destrutiva, o que mostra um
possível transtorno de personalidade grave, a psicopatia.
Na psicanálise, esse tipo de violência extrema pode ser
interpretado como uma atuação do inconsciente. O agressor não está apenas
punindo, ele está tentando destruir aquilo que representa sua própria
fragilidade. A mulher, ao existir como sujeito autônomo, torna-se
intolerável para um homem que não suporta a alteridade. O número de golpes, a
velocidade e a intensidade revelam um gozo perverso, uma satisfação
inconsciente na destruição.
Infelizmente, esse não é um crime isolado. Ele faz parte de
um padrão que se repete com alarmante frequência em diferentes lares, com
diferentes rostos, mas com a mesma estrutura psíquica: dominação, controle,
destruição.
O Sequestro da Alma
Na psicanálise, o “sequestro da alma” não é uma metáfora
poética, é uma descrição precisa do que ocorre quando o agressor invade o
espaço psíquico da vítima. Ele não apenas fere o corpo, mas coloniza o inconsciente. A vítima passa
a duvidar de si mesma, perde a capacidade de nomear o que sente, e muitas vezes
internaliza a culpa pela violência sofrida.
Esse sequestro ocorre por meio de mecanismos como:
- Gaslighting: manipulação psicológica que
distorce a realidade da vítima, fazendo-a questionar sua sanidade.
- Isolamento
afetivo: o
agressor afasta a vítima de amigos, familiares e redes de apoio, criando
dependência emocional.
- Controle
simbólico: o
agressor domina não apenas ações, mas também pensamentos, desejos e até
sonhos da vítima.
A vítima, nesse cenário, deixa de ser sujeito de sua própria
história. Ela se torna objeto do desejo destrutivo do outro, vivendo em estado
de alerta constante, com o sistema nervoso e emocional em colapso silencioso.
A Cicatriz que Não Some: Trauma e Memória
A psicanálise observa que o trauma não desaparece, ele se
inscreve no inconsciente, molda comportamentos, interfere nas relações futuras. A cicatriz da alma é permanente.
Ela pode ser elaborada, ressignificada, mas jamais apagada. A vítima carrega
consigo a memória do horror, que pode se manifestar em sintomas como ansiedade,
depressão, pânico, insônia, dissociação. O corpo pode se curar, mas o
psiquismo precisa de tempo, cuidado e escuta.
A violência doméstica e a tentativa de feminicídio deixam
marcas que vão além do visível, nas vítimas sobreviventes. A cicatriz da alma é
uma inscrição traumática no inconsciente. Ela não desaparece com o tempo, ela
se transforma, se desloca, se manifesta em sintomas.
Essas cicatrizes podem se expressar como:
- Transtornos
de ansiedade e pânico
- Depressão
profunda
- Insônia
crônica
- Dissociação
(sensação de estar fora do próprio corpo)
- Dificuldade
de estabelecer vínculos afetivos saudáveis
- Medo
constante, mesmo em ambientes seguros
A memória traumática é fragmentada, muitas vezes não
verbalizada. A vítima pode não conseguir contar o que aconteceu, mas seu
corpo e seu psiquismo continuam a viver o evento como se ele estivesse
acontecendo no presente.
Importantes benefícios da terapia psicanalítica para
sobreviventes:
- Elaboração
do trauma: ao
colocar em palavras o que foi vivido, o sujeito começa a dar sentido ao
sofrimento.
- Reconstrução
da identidade:
a vítima deixa de ser apenas “sobrevivente” e volta a se reconhecer como
sujeito desejante.
- Ressignificação
da culpa:
muitos sobreviventes carregam culpa inconsciente. A análise permite
compreender que essa culpa é uma construção psíquica, não uma verdade.
- Fortalecimento
do eu: ao
compreender os mecanismos inconscientes que sustentaram a relação abusiva,
o sujeito ganha ferramentas para evitar repetições.
A psicanálise também reconhece, seguindo as leis brasileiras,
que a violência doméstica pode atingir homens, embora em menor número, eles
também podem ser vítimas de relacionamentos abusivos, especialmente em
contextos de manipulação emocional, humilhação e controle.
O sofrimento psíquico não tem gênero, e o espaço terapêutico
deve ser acolhedor para todos que vivenciam esse tipo de dor. Embora a maioria das vítimas de violência doméstica e feminicídio sejam
mulheres, é fundamental reconhecer que homens também podem sofrer abusos:
físicos, emocionais e psicológicos. A psicanálise não faz distinção moral
entre os afetos: ela escuta o sofrimento onde ele se apresenta.
Homens vítimas de violência muitas vezes enfrentam barreiras
adicionais:
- Estigma
social (“homem não apanha”)
- Vergonha
de denunciar
- Dificuldade
de reconhecer o abuso como tal
A terapia psicanalítica pode ser um espaço libertador para
esses homens, permitindo que eles nomeiem sua dor, compreendam suas repetições
e reconstruam sua capacidade de se relacionar de forma saudável.
A Realidade dos Números
Segundo o Anuário Brasileiro da Segurança Pública, divulgado
pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Brasil registrou um
recorde de feminicídios em 2024: foram 1.492 assassinatos, 1% a mais que em
2023. O dado mais estarrecedor é que 80% desses crimes foram cometidos por
companheiros ou ex-companheiros. Isso revela que o lar, espaço que deveria ser
de proteção, é muitas vezes o cenário do terror.
A Máscara do Psicopata pela Psicanálise
O psicopata não se apresenta como monstro, ele seduz,
encanta, manipula.
Sua máscara é cuidadosamente construída para manter os outros a uma distância
emocional calculada. Ele não se conecta, apenas controla. Na relação
abusiva, essa figura se mostra como alguém que oferece amor, mas entrega
destruição. A vítima, envolta nessa ilusão, demora a perceber que está
diante de alguém cuja verdadeira natureza é a perversidade.
O psicopata não é apenas alguém que manipula ou engana, ele é
um sujeito cuja estrutura psíquica se organiza em torno da ausência de empatia,
da negação do outro como sujeito, e da instrumentalização das relações humanas. A “máscara” que ele veste não é
apenas uma estratégia social: é uma defesa psíquica sofisticada, construída
para sustentar um falso self funcional e sedutor.
Estrutura e Defesa
Falso Self (Winnicott): O psicopata constrói um falso self altamente
adaptado, capaz de simular emoções, desejos e vínculos. Essa máscara é uma
armadura que encobre um vazio interno, uma ausência de verdadeiro sentimento de
identidade.
- Narcisismo
Patológico: Há
uma hipertrofia do ego e uma idealização de si mesmo. O outro é visto como
objeto de uso, não como sujeito com desejos próprios.
- Forclusão
do Outro (Lacan): O psicopata não reconhece o outro como portador de lei ou limite. A
alteridade é forcluída, ou seja, excluída radicalmente do campo simbólico.
Isso permite que ele aja sem culpa, sem remorso, sem angústia.
Sedução como Ferramenta
A máscara do psicopata é feita de charme, inteligência, afeto
simulado. Ele lê o desejo do outro com precisão e oferece exatamente o que é
esperado — não por empatia, mas por cálculo. Ele seduz para dominar, envolve
para controlar, promete para destruir.
- Identificação
Projetiva (Melanie Klein): Ele projeta no outro partes de si que não reconhece, e
depois manipula essas projeções para manter o controle.
- Gozo
perverso (Lacan): O prazer do psicopata não está no vínculo, mas na transgressão. Ele
goza ao ultrapassar limites, ao destruir o outro sem ser descoberto.
Ausência de Conflito
Diferente do neurótico, que sofre com o conflito entre desejo
e lei, o psicopata não sofre. Ele não se angustia. Sua máscara é tão bem construída que
ele pode parecer funcional, encantador, até altruísta. Mas por trás dela, se
esconde um sujeito que não reconhece o sofrimento alheio, e que não se vê como
parte de um laço social.
Máscara como Estrutura
Na psicanálise, a máscara do psicopata não é apenas um
disfarce, mas parte da própria estrutura do sujeito. Ela não cai facilmente, porque
não foi posta: foi construída como forma de existir. E é justamente por
isso que o psicopata é tão perigoso. Ele não sente, não sofre, não se culpa. E
por trás do sorriso, há um vazio que devora.
A Urgência de Colocar Limites
Colocar limites é um ato de reconstrução psíquica. É dizer
“não” à violência, é afirmar a própria existência diante de quem tenta
apagá-la. A
psicanálise entende o limite como estrutura fundante do sujeito, sem ele, o Eu
se dissolve no desejo do Outro. A mulher (ou o homem) que coloca limites
está, na verdade, resgatando sua identidade, sua autonomia, sua capacidade de
desejar e existir por si mesma.
Colocar limites não é apenas um ato de defesa, mas um gesto
de afirmação subjetiva. É dizer “eu existo”, “eu sinto”, “eu mereço respeito”. Na psicanálise, o limite é o que
estrutura o sujeito: é o contorno entre o eu e o outro, entre o desejo e a lei,
entre o cuidado e a invasão. E quando esse limite é violado, seja por
violência, manipulação ou negligência, o sujeito corre o risco de se perder de
si.
Limites como Fundamento Psíquico
- O
limite funda o sujeito: Desde a infância, aprendemos que há um “não” que nos
protege. O limite parental, por exemplo, é o que permite à criança
construir uma noção de realidade, de tempo, de frustração.
- Sem
limite, há fusão: Quando não há separação clara entre o eu e o outro, o sujeito pode
se tornar refém de relações simbióticas, abusivas ou destrutivas.
- O
limite é linguagem: Dizer “não” é inscrever-se no campo simbólico. É ocupar um lugar de
fala, de desejo, de escolha.
A Urgência no Contexto da Violência
Em relações abusivas, a ausência de limites é o terreno
fértil para o controle, a manipulação e o sofrimento. O agressor testa,
invade, ultrapassa, e cada vez que o limite não é imposto, ele avança mais. Por
isso, colocar limites não pode esperar. É urgente. É vital.
- O
corpo fala: A
ansiedade, o medo, a insônia são sinais de que os limites foram violados.
- O
silêncio perpetua: Não colocar limites é permitir que o ciclo continue. É aceitar o
inaceitável.
- O
limite protege o desejo: Ele não afasta o outro, mas sim protege o espaço onde o
desejo pode existir sem ser esmagado.
Colocar Limites é Ato de Amor
- Amor-próprio: Dizer “não” é cuidar de si.
- Amor
ao outro: Impor
limites é também ensinar o outro a respeitar, a escutar, a reconhecer.
- Amor
à vida: O
limite é o que impede que o sujeito se dissolva na dor, na culpa, na
submissão.
Colocar limites é urgente porque é o que nos separa a todos da
violência, da alienação, da perda de si. É o que permite amar sem se anular, cuidar sem se ferir,
viver sem se apagar. Na psicanálise, o limite não é prisão, é estrutura. E
só quem se estrutura pode desejar, escolher, existir.
Colocar limites é um ato de coragem. É um grito silencioso
que fala: Aqui e agora termina o abuso, e começa a minha vida.
Defesa é Antecipação: Escuta, Estratégia e Ação
Na psicanálise, a defesa não é apenas um mecanismo
inconsciente, é também uma possibilidade de ação consciente. Quando se afirma que “defesa é
antecipação”, está se afirmando que sobreviver à violência doméstica exige
mais do que coragem: exige leitura dos sinais, elaboração interna e construção
de estratégias práticas. É um movimento que começa dentro do sujeito e se
estende para o mundo externo.
A Defesa Começa na Escuta
A antecipação começa quando o sujeito se permite escutar o
que está sendo silenciado:
- Escutar
o próprio desconforto diante de atitudes abusivas
- Escutar
o medo que se repete sem causa aparente
- Escutar
o corpo que adoece, que se cala, que se retrai
- Escutar
os sonhos, os lapsos, os esquecimentos — todos sinais do inconsciente
A psicanálise oferece um espaço para essa escuta profunda. Ao
nomear o que está sendo vivido, o sujeito começa a se separar do agressor, a
reconstruir sua identidade e a recuperar sua capacidade de desejar.
Estratégias de Defesa: O Que Fazer
Defender-se é antecipar o perigo, é criar estratégias para
sobreviver. Isso
exige não apenas ações práticas, como buscar ajuda, mas também um movimento
interno de reconstrução.
Para quem está em situação de violência:
- Planeje
com antecedência:
guarde documentos, dinheiro, contatos de emergência em local seguro.
- Compartilhe
com alguém de confiança: não enfrente tudo sozinha(o). Uma rede de apoio pode
salvar vidas.
- Registre
as agressões:
fotos, mensagens, áudios, boletins de ocorrência: tudo pode ser prova.
- Busque
ajuda profissional: profissionais da área de saúde mental como psicanalistas, assistentes
sociais, advogados especializados em violência doméstica, em casos
extremos autoridades policiais e do Ministério Público.
- Evite
confrontos diretos: especialmente em momentos de tensão. Priorize sua segurança.
Para quem quer ajudar alguém em
situação de violência:
- A
vítima nunca é a culpada pela violência sofrida. Nunca. Jamais.
- Escute
sem julgar. A vítima pode estar confusa, com medo ou emocionalmente presa.
- Ofereça
apoio prático: ajude com transporte, abrigo, orientação jurídica.
- Incentive
a busca por ajuda profissional.
- Nunca
pressione a vítima a sair da relação de forma abrupta, porque pode
aumentar o risco. Ajude-a a construir um plano seguro.
Canais de Ajuda no Brasil
Aqui estão os principais serviços disponíveis para quem sofre
ou testemunha violência doméstica:
Disque 180: Central de Atendimento à Mulher. Oferece orientação,
acolhimento e encaminhamento.
Disque 190: Polícia Militar. Para casos de emergência e agressão em
andamento.
Disque 100: Denúncia de violações de direitos humanos, incluindo
violência doméstica.
Delegacias da Mulher (DEAMs): Atendimento especializado para
mulheres vítimas de violência.
Ministério dos Direitos Humanos: Plataforma de denúncias online www.gov.br.mdh
Aplicativos como o “SOS Mulher” (SP): Permite acionamento rápido da
polícia por mulheres com medida protetiva (Disponível para Android e iOS)
Centro de Referência da Mulher: Atendimento psicológico, jurídico e
social gratuito (consulte a prefeitura local).
Defensoria Pública: Assistência jurídica gratuita para vítimas www.defensoria.gov.br
Antecipar é Viver
Antecipar é viver porque é escolher a vida antes que ela seja
interrompida. É
reconhecer que o perigo não começa com o golpe, mas com o silêncio que o
precede. É entender que a violência não se limita ao corpo, mas invade a
alma, distorce o desejo, apaga a identidade. E é justamente por isso que
antecipar é um gesto de resistência profunda.
Na psicanálise, viver não é apenas existir biologicamente, é
ser sujeito, é desejar, é construir sentido. A vítima de violência doméstica, ao antecipar o ciclo
da agressão, está fazendo mais do que se proteger: está se reconectando com sua
própria história, com sua potência, com sua capacidade de dizer “basta”.
Antecipar é:
Escutar os sinais do corpo e da mente
- Romper
com a fantasia de que o agressor vai mudar
- Reconhecer
que o amor não machuca, não humilha, não controla
- Buscar
ajuda antes que o medo se torne rotina
- Criar
estratégias para sair, para reconstruir, para recomeçar
Viver, nesse contexto, é um ato social, psíquico e afetivo. É
afirmar que a dor não define o sujeito. Que a cicatriz pode ser elaborada. Que
o trauma pode ser transformado. Que a alma, mesmo sequestrada, pode ser
resgatada.
E acima de tudo, viver é saber que há saída. Que há
redes de apoio, profissionais capacitados, espaços de escuta. Que pedir
ajuda é um gesto de força. Que sobreviver é possível, que ninguém merece
viver com medo.
Antecipar é viver. É escolher a vida antes que ela seja
tirada. É transformar o silêncio em palavra, a dor em caminho, o trauma em
reconstrução.
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