O Crime de Stalking e a Psicanálise


A psicanálise entende o fenômeno do stalking não apenas como um comportamento disruptivo, mas como um sintoma de processos psíquicos mais profundos. Segundo a visão psicanalítica, o stalker pode ser visto como alguém que não conseguiu elaborar adequadamente o luto pela perda de um objeto de amor, seja ele real ou imaginário. Esse indivíduo se encontra incapaz de aceitar a separação ou a rejeição, buscando preencher um vazio interno através da obsessão pelo outro.

A psicanálise identifica no stalking uma tentativa falha de alcançar uma completude narcísica, onde o sujeito procura incessantemente algo que sente faltar em si mesmo no objeto de desejo. Esse comportamento pode ser alimentado por mecanismos inconscientes como raiva, agressividade, solidão e inaptidão social, muitas vezes decorrentes de distúrbios psicológicos como o narcisismo patológico e pensamentos obsessivos.

Assim, a psicanálise pode ser uma ferramenta valiosa no tratamento de casos de stalking, ajudando tanto a vítima quanto o agressor. Para a vítima, ela oferece um caminho para reconhecer sua vulnerabilidade e fortalecer sua capacidade de se proteger e buscar ajuda. Para o agressor, ela busca compreender os mecanismos psíquicos que impulsionam o comportamento de perseguição, visando a transformação desses impulsos em algo menos destrutivo.

A psicanálise, por exemplo, pode oferecer ajuda valiosa ao explorar as motivações inconscientes e os conflitos internos que levam a tais comportamentos obsessivos, além de proporcionar um espaço, o setting analítico, para que os stalkers entendam o impacto de suas ações nos outros e aprendam estratégias de interação social mais saudáveis, reconhecendo que possivelmente condições subjacentes, como transtornos de ansiedade ou de humor, podem contribuir para o comportamento de perseguição.

Finalmente, é importante notar que a prevenção é um aspecto crucial no manejo do stalking. Educação pública sobre o assunto, identificação precoce de comportamentos de risco e intervenções oportunas podem ajudar a prevenir a escalada de comportamentos de perseguição e proteger potenciais vítimas. A conscientização sobre a gravidade do stalking e o apoio disponível para aqueles que se encontram nessa situação são passos fundamentais para mitigar esse problema social complexo. A vítima tem que se conscientizar de que precisa falar sobre o assunto, seja com parentes , amigos ou autoridades legais, pois além do imenso sofrimento psíquico (e que pode chegar ao sofrimento físico e até a morte em casos extremos) que acarreta à vítima, o stalking é crime no Brasil, de acordo com a Lei 14.132/2021, que inseriu o artigo 147-A no Código Penal.

Como ajudar alguém que está sofrendo stalking - Para ajudar alguém que está sendo perseguido, é fundamental adotar uma abordagem empática e proativa. Primeiramente, é importante validar os sentimentos da pessoa e assegurar que ela não está sozinha nessa situação. Como já mencionado acima, o setting analítico oferece um ambiente seguro para que ela possa expressar suas preocupações e medos sem julgamento.

Encorajar a vítima a documentar todas as interações com o perseguidor pode ser um recurso valioso, tanto para a proteção legal quanto para o processo terapêutico. Isso inclui guardar mensagens, e-mails, registros de chamadas e qualquer outra forma de comunicação. Além disso, é essencial instruir a pessoa a evitar qualquer tipo de confronto direto com o perseguidor, pois isso pode escalar a situação.

A ajuda psicanalítica pode ser importante para vítimas de stalking, assim como o apoio policial e jurídico. Advogados podem orientar sobre as medidas legais que podem ser tomadas, enquanto psicanalistas podem ajudar a vítima a processar o trauma e desenvolver estratégias de enfrentamento. Em alguns casos, pode ser necessário envolver as autoridades policiais para garantir a segurança da pessoa perseguida.

É igualmente importante educar a vítima sobre a importância de um plano de segurança, que pode incluir mudanças de rotina, medidas de segurança em casa e no trabalho, e até mesmo um dispositivo de alerta para situações de emergência.

Por fim, promover a conscientização sobre o stalking é um aspecto chave para ajudar não apenas a vítima individual, mas também para prevenir futuros casos. Isso pode ser feito através de campanhas educativas, workshops e palestras que informem o público sobre a gravidade do stalking e sobre como intervir de maneira segura e eficaz. Através da educação e do apoio, é possível criar uma rede de segurança mais forte para aqueles que enfrentam essa difícil realidade.

É importante ressaltar que a psicanálise por óbvio não responsabiliza a vítima pelo assédio sofrido, mas procura entender a dinâmica complexa entre vítima e agressor. Ao fazer isso, ela contribui para uma compreensão mais aprofundada das raízes do comportamento de stalking e abre possibilidades para intervenções mais eficazes que possam prevenir e tratar esse fenômeno preocupante. A psicanálise, portanto, oferece uma lente através da qual podemos examinar o stalking não apenas como um problema legal ou social, mas como uma manifestação de conflitos internos e necessidades psicológicas não atendidas.


 

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